Category Archives: João Rural

Alma de músico

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 23 Agosto de 2002

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Quem conheceu e conviveu com o Seu Siqueira. Pode lembrar muito bem sua capacidade musical, melhorou seus conhecimentos com o famoso Maestro Póca.

Em conversa com ele, na década de 70, Seu Siqueira informou que conseguiu seu primeiro violino, comprado pelo seu pai, de uma Folia de Reis que visitou a cidade na década de 20.

Ele foi um dos primeiros músicos do cinema na cidade, cujas primeiras exibições aconteciam dentro do mercadão. Seu Siqueira e outros músicos assistiam ao filme primeiro, numa sala fechada, para depois tocarem na hora da exibição publica.

Quando saiam da sala, o povo estava na porta, querendo saber como era o filme, mas eles não contavam nada.

Durante a vida participou das serestas da cidade e se dedicou muito a fazer músicas religiosas. Alias, foi mestre capela, dirigindo o coro paroquial por muitos anos.

É dele a música do hino de Santo Antônio e do tricentenário, com letra do Pe. Ernesto. Fez ainda várias partituras para as músicas de missa. Muitas dessas partituras estão salvas por integrantes do coro paroquial, mas seria necessário que isso tudo fosse registrado para que não se perca no tempo.

Benedito Siqueira e Silva

Benedito Siqueira e Silva

Benedito Siqueira e Silva

Benedito Siqueira e Silva

O lobisomem da Rua da Bica

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Foi na década de quarenta. Século passado. Por um bom tempo, o lobisomem fez a festa na Rua Bica. Um comerciante do largo do Mercado tinha um problema de saúde, uma asma crônica, aparente mesmo no seu estado normal de saúde, vivia constantemente com dificuldade respiratória. À noite, quando a crise apertava, sem poder dormir, saia pela rua em busca de ar puro e passar o tempo. Só que, nessas caminhadas, muitos fatos eram flagrados, namoros proibidos, visitas estranhas em casas estranhas e muito mais. O comerciante era também cartomante, gostava de tirar sorte e ler as mãos. Esses flagrantes aumentavam os seus conhecimentos, fortalecendo o seu conceito. Então, começou a sair à noite cada vez mais.           Na Rua da Bica tinha muitos cachorros. Residiam ali, caçadores, como os senhores Santinho Vitu, Seu Ivo, Seu Serafim e outros. Em cada passada pela rua, os cachorros ficavam barulhentos, uivavam e latiam muito, até que um dia alguém viu algo estranho, parecido com um lobisomem. A notícia se espalhou, chegando ao conhecimento do comerciante. Uma boa, além de sua caminhada pela rua, ele provocava os cachorros para que o barulho fosse mais forte.

Naquela época, era comum os homens usarem uma capa de feltro, grossa, de cor escura, comprida até os pés, para se proteger do frio, chuva. Quando cavalgando, protegia também os cavalos. O comerciante usava uma dessas capas. O lobisomem cada dia ficava mais famoso e o comerciante se divertindo cada vez mais. Cada morador contava uma história, todos viram alguma coisa, mas a imaginação era para o lobisomem.

Alguém tinha que tomar providência. Até que os caçadores resolveram por fim na história. Fizeram uma reunião. Tudo acertado. Ficar de tocaia, armados com cartucheira e tudo, foi a proposta aprovada. O comerciante participou da reunião. O lugar estratégico era o quintal da casa do Bento Maia, muito grande e com uma criação de galinhas e frangos de onde todas as semanas sumiam um. Certamente o lobisomem estava comendo.

No dia marcado, uma sexta-feira, também com a participação do comerciante, o plano estava sendo executado. Meia noite. Um barulho no quintal. As galinhas acordaram, todos foram para o local. Um tiro. Aquela correria. Seria o lobisomem? Com certeza. Foi uma festa. Logo de manhã todos procuravam vestígios e encontraram gotas de sangue próximo à cerca de taquara e arame farpado. Pela lenda, o encanto do lobisomem teria acabado. Ele não voltaria mais.

Na verdade, era um ladrão de galinha que foi pego de surpresa e se arranhou todo na cerca. Passado muito tempo, o comerciante, debaixo de muito segredo, resolveu contar tudo a seus principais amigos. Nada poderia ser revelado, para não quebrar o seu conceito de homem honesto e honrado e para não ter que prestar conta de tudo que ele sabia a respeito do proibido. Essa é mais uma lenda entre as muitas que surgiram na Rua da Bica.

folclore

Bica d'água 1980

Bica d’água 1980

Histórias da Rua da Bica (por José Déia)

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 03 dezembro de 2000 parte III

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Lembro-me ainda quando criança, na Rua da Bica local onde fui criado, senhoras, senhores, jovens e crianças que desciam da Rua Nova, se reuniam em frente à Bica. Depois de tomarem um estimulante café nos botequins dos Srs. Bento Maia, Chico Neves, Berto Vitu, Zé Pinto (marido de D. Sofia) seguiam como em procissão para as colheitas, na Fazenda da Barra, Fazenda dos Barretos, Fazenda do D. Nicanor de Camargo Neves e Vila Camargo. Era na época a principal fonte de renda no período das colheitas.

Ainda conheci, por ultimo, o avô de nosso amigo Cecílio Rocha, o Sr. Severino Pires, que foi o responsável pelo comercio e fornecimento de café para os comerciantes e população da cidade, na década de 50. Naquela época tínhamos na Rua da Bica cinco lojas. A do Seu Serafim, a do Turco Miguelzinho, do Raul Stefano, nosso amigo Jose Daher e do Seu Chafim, que também foi dono do Cine Santo Antonio, antes do Dito Santo e do Celso Ladeira.

Tinha quatro grandes armazéns, famosos pelos seus potenciais. Armazém do Seu Ivo, Bento Maia, Zé Pinto e Augusto Rico e mais os do Seu Chico Ventura e do Seu Leal no largo do Mercado.

Tínhamos botequins e pensões de ponta a ponta da rua, e ainda mais três barbeiros, o Seu Gradim, Seu Antenor e o Seu Argentino. Ficava ali a mais famosa das pensões. A pensão do Joaquim Mariano para homens e animais, eqüinos ou bovinos. Tinha como gerente o Seu Chico Belarmino e atendia a todo tipo de pessoas. Tinha três categorias: a primeira era cama com colchão de palha de milho, na segunda tinha esteiras de taboa no chão e na terceira dormia-se no “cabide” de preferência pendurado.

A comida também tinha três categorias. Com prato de louça e garfo, com prato de ágata e colher ou simplesmente numa lata, de preferência daquelas redondas de goiabada. Todos os pratos eram acompanhados de um aperitivo, gratuitamente.

Bica d'água ano de 1980

Bica d’água ano de 1980

Farofa de formiga, vai bem

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 1 Outubro de 2000, parte II

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A tradição de comer içá mais do que nunca, está viva em nossa região. Perdem-se no tempo quando começou. A iguaria sempre foi apreciada pelos brasileiros, desde mais simples até personalidades, como Monteiro Lobato. Mais recente, o padeiro Anquir, aquele que fez sucesso na copa da frança e casou com Deborah Bloch, descobriu a içá na região do vale histórico. Levou para seu programa de receitas na TV e tornou-se um dos apreciadores afirmando que iça é uma das iguarias exóticas do Brasil que deve ser divulgada. Em Paraibuna sabemos de muita gente que gosta. Alguns procuram esconder isso, mas outros fazem questão de contar. Claudio Reis, João Guará são alguns exemplos. O costume de se comer iça vem de séculos. Como começou se perde no tempo. Pesquisadores dizem que jesuítas é que forçaram o costume, fazendo o povo comer acreditando que assim dizimavam as formigas saúvas. Outros afirmam que o costume vem dos índios mesmo, quando era chamado de “comida dos bugres”. Dúvidas a parte, interessante é que nos últimos anos o costume tem ganhado o interesse da imprensa, com reportagens e divulgação de receitas com içá. Segundo os antigos a içá que é a rainha do formigueiro, aparece sempre no mês de outubro até o começo de novembro dependendo do tempo. Depois de uma chuva com trovões as iças são empurradas do formigueiro, para fazerem seus vôos nupciais. Antes saem os “sabitús”, que são os machos. No vôo chamado de nupcial, fazem o cruzamento em pleno ar. Em alguns locais são tantos que conseguem fazer uma nuvem em frente ao sol. Depois do cruzamento, descem cortam suas próprias asas e faz um buraco na terra para iniciar seu formigueiro. Mas poucas tem sucesso. Tem até mesmo içás que saem de manhã e as que saem à tarde, sempre depois de um mormaço. Os moradores da roça dizem até mesmo que tem um “sol de içá”, indicando que elas vão fazer vôo naquele dia.

Monteiro

Monteiro Lobato, em 1945 quando morava ainda e São Paulo solicitou e recebeu uma latinha de içá de sua prima Beijoca. Para agradecer enviou a seguinte carta:

“Beijoca recebi a latinha de içá torrado. Creio que ainda gosto disso apenas como meio de me recordar do Taubaté do meu tempo, uma coisa que já nada tem que ver com Taubaté de hoje. Mas foi você incomodar dona Silvina… Para mim foi muito bom, porque me rendeu o bilhetinho que ela lhe mandou, com o pedido em troca de içá, de um pensamento sobre içá… a sugestão me perturbou, porque nunca no mundo ninguém jamais “pensou” sobre içá e pelo jeito é realmente a coisa “impensamentável”, mas já que a dona Silvina pede, faço um esforço e digo que o “IÇÁ É O CAVIAR DA GENTE TAUBATEANA”. Como você sabe, o famosíssimo e apreciadíssimo caviar da Rússia é a ova dum peixe de nome esturjão: e que é o abdômen (vulgo bundinha) do içá senão a ova da formiga saúva? Adeus, Beijoca. Saudades a todos dai e meus cumprimentos a dona Silvina. Zé bento ( José Bento Monteiro Lobato)”.

João Rural com Douglas (depósito Martelo)

João Rural com Douglas (depósito Martelo)

Fogão do João Rural -  Douglas  comendo iça

Fogão do João Rural –
Douglas comendo iça

A lenda sobre D. Pedro I em Paraibuna

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 12 Setembro de 2000

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Muitas lendas existem sobre a presença de D. Pedro I em Paraibuna, assim como em muitas outras cidades. Contam alguns que D. Pedro encontrava-se com a Marquesa de Santos no prédio onde é a Câmara Municipal da cidade. Mas isso tudo é apenas lenda. Por outro lado Paraibuna tem uma história interessante com a própria Marquesa de Santos, que foi a amante de D. Pedro entre 1822 e 1829. Mas isso 40 anos depois da Proclamação da Independência, quando D. Pedro I já tinha morrido. Pode ter vindo das lendas. A D. Domitila de Castro e Melo, a Marquesa de Santos casou-se com Major Rafael Tobias Aguiar em 1833 que acabou tendo ligações com Paraibuna. Veio morar na cidade e chegou a ser presidente da Câmara Municipal em 1834.

Depois da morte de Tobias (faleceu em 1857) em 1861 corre processo no Fórum local uma devolução de uma fazenda comprada provavelmente por Rafael Tobias. Existem documentos assinados pela Marquesa de Santos como uma procuração datada de 13 de junho de 1861 para resolver problemas de terras, produção, construções e escravos entre “seu finado marido o Excelentíssimo Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar” e o Major Antônio Joaquim Ortiz.

Acervo do museu Histórico e Pedagógico de Dom Pedro e Dona Leopoldina

Acervo do museu Histórico e Pedagógico de Dom Pedro e Dona Leopoldina

 

O dialeto caipira

Esta matéria foi escrita por João Rural Nascentes Julho Dialeto Caipira
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Todos os municípios que fazem parte da região das Nascentes do Paraíba são, atualmente, um dos maiores redutos da cultura caipira do Estado de São Paulo. A localização geográfica e formação histórica favoreceram à sua gente a preservação de hábitos do tempo do Brasil colônia. Nessa região ainda se observa, por exemplo, a influência da língua “nheengatu”, na fala das pessoas. Palavras, frases ou jeito de falar que, à primeira vista, podem parecer apenas “o modo de falar errado dos caipiras”, representam, na verdade, uma riqueza cultural cujo valor para ser compreendido requer uma volta ao passado. A língua “nheengatu” foi desenvolvida pelos jesuítas que utilizaram como base para isso a língua Tupi, talvez por ter sido a primeira com que tiveram contato no Brasil. O “nheengatu” seria o Tupi, com o acréscimo de palavras espanholas e portuguesas, regulado pela gramática da língua portuguesa. Com o objetivo de unificar linguisticamente as tribos, os jesuítas difundiram o “nheengatu” por todo o Brasil em seu trabalho missionário. Até que, no século XVIII, o rei de Portugal determinou que o Português fosse a língua oficial do Brasil. O que foi feito, principalmente nas cidades costeiras e portuárias que, mais tarde, receberiam a influência linguística africana, introduzida pelos escravos. Assim, o “nheengatu” e outros dialetos só puderam sobreviver escondidos no interior do Brasil, protegidos pela distância da repressão linguística. Com o tempo, essas sutilezas históricas da construção da língua foram esquecidas e o dialeto caipira, interação entre o português e o “nheengatu”, foi generalizado, de forma preconceituosa, como o “falar errado” dos caipiras. No final do século XX, contudo, a cultura caipira começou a ser prestigiada e a situação mudou. Foi-se retomando, sem medo ou vergonha de ser feliz, o prazer da boa vida no campo, com tudo a que se tem direito. Inclusive a liberdade de falar caipira sim senhor.

João Rural

João Rural

No caminho de Nossa Senhora dos Remédios

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº12 de Setembro de 2001. 

Leia e se delicie, e se for fazer o caminho até a Capela de Nossa senhora do Remédio você pode conferir o que ainda esta lá, e o que o tempo já levou, assim como o João Rural.

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O Caminho de Nossa Senhora do Remédio começa na Vila de Fátima, seguindo em direção a Fazenda Laranjeiras. Com apenas 1km, entra-se a esquerda, subindo um morro de pelo menos 2km. Quase no final, à direita, mora uma das filhas do Seu Aristides, que ainda faz a famosa farinha de mandioca.
Virando o morro no Km 4,5, chega-se no cruzamento com a estrada que vai pro Porto. Segue-se por ela, passando pelo Alambique do Jotinha. No km 10, chega-se ao cruzamento da Fazenda do Porto. Seguindo a estradinha no km 10,5 , está uma Santa Cruz. Aqui histórias verdadeiras se misturam com lendas. Dizem os antigos que neste local havia um cemitério de negros mortos nas fazendas da região, por isso a Santa Cruz. Há alguns anos, quando os novos proprietários foram arar terra no local, encontraram realmente várias ossadas. Resolveram parar tudo, colocar terra por cima e arrumar a Santa Cruz, em memória desses mortos do passado.

Mirante do Remédio

Mirante do Remédio

Seguindo no km 13, chega-se à Fazenda dos Silvinos , onde encontramos o Seu Vicente Lobato descarregando leite de sua tropa. No km 14, chega-se ao Sitio Velho, onde uma cachoeira é atração. À beira da estrada pode-se entrar e refrescar um pouco da viagem.

Seguindo, passamos pela Fazenda Pau D’Alho(parte antiga). No km 15, chega –se à casa do Seu Luiz Gomes Vieira, um mineiro sorridente, com 78 anos de idade e aina trabalhando na lida. Seu Luiz conta que chegou ao lugar em 1932, trazido para trabalhar numa lavoura de algodão do produtor Vitor Ardito que era de Pindamonhangaba. Conta que quem tomava conta desta fazenda na época era Seu Manoel Carvalho, que era dono da chácara do Bairro do Caracol.

Seu Luiz Lembra Muito bem das antigas festas do lugar. Na noite de 7 de setembro, o vale se enchia dos sons dos atabaques dos negros jongueiros que viravam a noite em volta da fogueira.

Seguindo, no km 16, passamos pelo local que era a sede da antiga Fazenda Pau D’Alho original. Local de muitas histórias estranhas, protagonizadas pelo seu antigo proprietário, o Major Soares.

Os restos da antiga fazenda, com paredes de taipa e pau-a-pique, ainda estão de pé. Seu atual proprietário Pedro Fonseca, de Salesópolis, está reformando a casa, que pretende conservar.

Estrada acima, pois a subida mais forte começa aqui. No km 17, passamos pela casa do Seu Vicente Lobato, onde vive com a família, faz pequenas lavouras e cria gado de leite. Sob um cocho de sal para o gado, guarda duas pedras do antigo moinho da Fazenda Pau D’Alho.

Voltamos à estrada, porque daqui pra frente a subida é das mais puxadas. Até o topo da Serra do Remédio são apenas mais 2 km, mas sobe-se de 800 metros de altitude, parar 1.100 no local da igrejinha. Até o Cruzeiro a altitude chega a 1.197 metros, sendo uma das maiores do município.

No km 18 , depois de pelo menos três horas de caminhada a parada é na casa do Seu Antonio Lobato, onde pode-se tomar uma água, descansar um pouco e rezar na capela do seu quintal. Ele diz que esta capela também é antiga, com uma cruz e objetos todos de madeira . Seu Antonio é um dos que tem muitas histórias do local, escutadas dos antigos, principalmente de “Tia Joana”, como eles chamavam a D. Joana Parente, uma negra, descendente de escravos que morava ali.

Seu Antonio ainda guarda como lembrança o antigo pilão de D. Joana. Feito de peroba, gasto pelo uso , deve ter mais de cem anos. Como autentico homem da roça, Antonio diz que nunca tomou remédio de farmácia. Está com diabetes, mas usa somente as plantas Pata de Vaca e até Insulina, que tem plantada no seu quintal.

Altar Nossa Senhora dos Remédios

        Altar Nossa Senhora dos Remédios

Morro acima, e mais 1km chega-se finalmente à Capela do Remédio. Mais 500 metros a conquista do topo onde está o antigo Cruzeiro, lugar que por si só tem um visual indescritível do Vale da Fartura. Em dias  claros, enxerga-se a Pedra do Baú, na Serra da Mantiqueira, e de noite as luzes de São José dos Campos O Cruzeiro esta ali abençoando as antigas histórias e lendas. Em contraste ali estão várias antenas de comunicação. por onde passam hoje as  histórias e lendas do mundo todo.

João Rural não passa

Hoje, inteiram dois anos que o caipira multimídia João Rural foi amarrar seu burro (ou estacionar seu fusca) em outras bandas, mais pra riba. Mas, nem por isso, quem ficou se esqueceu dele. O seu trabalho de pesquisa da cultura caipira do Vale do Paraíba, o seu maior legado, está a um clique de distância no endereço www.chaocaipira.org.br, são fotos, páginas e vídeos pra mais de metro, registrando festas, comida, gente, música, natureza e por aí vai. É só deitar na rede.

E pra não fugir da memória da gente do vale, mais uma homenagem marca o nome do pesquisador na região. A partir de uma iniciativa do prefeito de Paraibuna, Victor de Cássio Miranda – o Vitão (PSDB), a lei 16.462/2017, de autoria do deputado estadual Hélio Nishimoto (PSDB), denomina como “João Rural – Pesquisador da Cultura Caipira” a passarela localizada no km 29 da Estrada dos Tamoios, em Paraibuna.

Para Rodrigo Silva, presidente do Instituto Chão Caipira “Malvina Borges de Faria”, que tem como missão preservar a memória do pesquisador, “iniciativas como essas são fundamentais para que João Rural continue fazendo parte do cotidiano das pessoas”. Familiares e amigos também agradecem o empenho do prefeito Vitão e do deputado Hélio Nishimoto, demonstrando o compromisso de ambos com a história do Vale.

Joa Rural no fogão

Últimas notícias do século passado

Folha1

O projeto João Rural continua caminhando. Neste momento estamos digitalizando todas as edições das Revistas Nascentes e da Folha da Serra, editadas, escritas, fotografadas, dirigidas… pelo João Rural, amigos e parentes. A ideia é que todo esse acervo esteja acessível e pesquisável no site do Instituto Chão Caipira, que estará disponível em breve. Um rico material para pesquisadores, estudantes, curiosos em geral.

Fica um gostinho, com a primeira edição do Folha da Serra, de 1980.

Clique aqui para voltar no tempo: Folha1