Monthly Archives: março 2012

As cascas do prazer

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É tempo de laranjas, limões e outras frutas.

É o tempo de tudo isso, mas não se pode pensar somente nas frutas. As cascas podem se transformar em delícias adocicadas.

Não só a goiaba, mas o limão cravo e a laranja azeda também se tornam doces. Uma curiosidade sobre o doce de casca de laranja, é que foi criado para que as pessoas pudessem comer frutas o ano inteiro e como remédio, não como sobremesa. E mais curioso ainda, o doce de casca de laranja foi criado por volta de 1560, em Portugal pelo grande Nostradamus. É, ele mesmo, o das profecias. Só que ele era farmacólogo, especialista em preparas remédios.



Doce de Laranja Azeda
Ingredientes – 2 dúzias de laranja azeda, 1 colher (sopa) de sal, 1 trouxinha de cinza, 1 rapadura.
Como fazer – Primeiro descasque as laranjas, tirando o sumo externo, isto é, bem fininho. Corte em cruz, tirando o miolo e jogando fora. Pegue as cascas e coloque numa bacia com água, o sal e a trouxinha de cinza no meio. Deixe uns trinta minutos e depois comece a trocar a água de hora em hora, durante o dia. Fazer esse processo por mais ou menos três dias, até sair o amargo da casca. Na hora de preparar o doce, faça uma calda com a rapadura e os cravos. Coloque as cascas de laranja para ferver. Quando estiver mole, retire e deixe esfriar para comer.

…é muita janela.

Andar pelas ruas de Bananal, nos dias de hoje, é como viajar ao passado da história. È só imaginar quem estava debruçado em uma das janelas dos casarões, quase ser atropelado por uma carruagem de senhorinhas, entrar na fila pra pegar água no chafariz, ser empurrado por um cidadão que corria pra não perder o trem, ou mesmo ter que abrir caminho para mais uma tropa cargueira que se dirigia para o Rio de Janeiro. Bananal ainda respira com saudades desse tempo em que centenas de pessoas transitavam por ali, passeando, negociando e politicando.

Vários prédios desse tempo áureo ainda estão de pé, muitos deles em restauração. Como o Solar Comendador Aguiar Valim, construído em 1855, recebeu durante muito tempo autoridades e artistas que passavam pela região. Só pra vocês terem uma noção do tamanho desse prédio, ele tem 18 portas e 18 janelas, só de frente.

Nele tem obras do pintor José Maria Villaronga. O famoso pintor também tem obras nas Fazendas Rialto, Resgate e no Teatro Santa Cecília. Trabalhou como construtor na Igreja Matriz. A parte interna desta Igreja esta sendo restaurada, pois as obras desse pintor foi encoberta por outras pinturas. Villaronga era catalão e naturalizou-se brasileiro em 1868, trabalhando em várias cidades.

Hoje o centro de informações ao turista fica no Solar Aguiar Valim, é só falar com Reinaldo, mais conhecido como Zé Pequeno. Eu já peguei minhas informações e fui atrás de mais histórias. Aguardem.

É tempo de paçocas

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Chega a quaresma e os costumes se voltam para a paçoca. A mais usual é a de amendoim, tradição antiga, que os religiosos tinham nesse alimento para jejuar.

Logo após a Semana Santa as paçocas continuam, como a de pinhão, tradição dos antigos tropeiros que comiam em suas viagens. O pinhão é uma castanha tão rica como as outras, mas que por muito tempo sofreu um preconceito da população.


Paçoca de Pinhão

Ingredientes – 1 kg de pinhão, 1 kg de farinha de mandioca, 1 colher (sopa) de sal.

Como fazer – Cozinhe o pinhão até amolecer. Descasque e lave-os bem. Coloque no pilão, com o sal e a farinha de mandioca, e vá socando até moer o pinhão. Come-se com café ou com comida.


Paçoca de Carne Seca

Ingredientes – 1 kg de carne seca, 3 dentes de alho, 5 colheres (sopa) de sal, 1 folha de louro, 1 maço de cebolinha verde, 1 xícara (sopa) de gordura.

Como fazer – Corte a carne em pedaços. Coloque dois litros de água fria no fogo, adicione a carne e ponha o sal. Mexa bem e deixe no fogo, sem tampa. Quando estiver espumando, isto é, antes de levantar a fervura, mexa bem e escorra a água fora. Repita a operação mais uma vez, colocando sempre a água fria. Esta é uma forma tropeira de retirar o sal. Mas cuidado, não deixe ferver, senão o sal cala mais na carne. Depois disso, frite o sal com alho, a cebolinha e a folha de louro e coloque a carne para cozinhar. Quando amolecer, coloque num pilão uma xícara de farinha de milho, uma concha de gordura, misture e soque bem.


Lugar de novelas

Passando pela Rodovia dos Tropeiros, depois de Bananal, me deparei com uma fazenda que não me era estranha. De longe tive a impressão que já conhecia de algum lugar.

Decidi entrar e desvendar esse mistério, descobrindo que ali é a Fazenda Boa Vista. Andando pelos corredores e cômodos, me deparei com um cenário de novela.

É verdade, algumas novelas de época da rede Globo foram gravadas lá. Como Sinhá Moça e Cabocla e a minissérie Um só coração. Eu sabia que já tinha visto essa Fazendona histórica do século XIX, em algum lugar. Foi na TV. Rsrsrsrs

Fique atento, pois o fusquinha não sossega e continua viajando, descobrindo e registrando. Até mais

Lendas da Fazenda dos Coqueiros


Ainda em Bananal, fui atrás de um pouco mais de história, na Fazenda dos Coqueiros de 1855. Aquela, que tem um poço de tortura de escravos que comentei em “…pelas trilhas da história”.

Realmente, essa fazenda é a mais sinistra, ainda mais depois de ouvir as lendas e histórias da Dona Beth. A que mais me intriga é a da escrava enterrada:

“Conta-se que na cozinha da fazenda tem uma escrava enterrada.

A história foi passada por uma descendente dessa escrava que ainda é viva e mora nos arredores da fazenda. Essa escrava estava grávida, teve uma hemorragia e veio a falecer. Como era um dia de festa a baronesa mandou enterrá-la na cozinha de terra batida, para ela saber que o lugar dela era na cozinha e para os outros escravos saberem que não podiam morrer em dia de festa.”

A fazenda é bem original, nos salões encontramos os vestígios do passado com objetos de época e peças autênticas encontradas enterradas nos arredores da fazenda, incluindo objetos de tortura que foram usados nos escravos. Os cômodos são grandes e frios, o assoalho de madeira é original e tem algumas frestas que da pra ver a senzala, que por sinal tem uma historia muito interessante, ela tem apenas 1 metro de altura e tem o chão batido, a explicação para isso é bem simples. Como a fazenda é fria o pequeno espaço da senzala era só para os escravos deitarem e dormir, impossibilitando-os de andarem e assim não aquecia os quartos.

E por falar em quarto, Dona Beth me contou que uma das mulheres que morava na fazenda era esquizofrênica e por isso ela passou a vida toda trancada em um quarto e quando eu dormi na fazenda me colocaram no quarto ao lado, quase morri de medo. E para ir ao banheiro, eu tive que atravessar a casa toda, acho que é por isso que as pessoas usavam pinico.

Mas de medo em medo, de história em história, a visita vale a pena.

Hoje tem Goiabada


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Falar em goiabada cascão em Paraibuna, todos lembram de varias doceiras. Mas uma, em particular é sempre a mais lembrada. É a D. Dita Turíbio, hoje com 87 anos. Ela chegou em Paraibuna ainda novinha, com a família de Seu Alberto Carvalhal, e foi morar no rio claro, onde esta até hoje.

Com a plantação de goiabas no quintal, começou a se especializar ma goiabada. Ela afirma também que o doce “ é fácil de ser feito, não tendo nenhum segredo”. Durante muitos anos ela comandou os tachos, mais sempre ajudada pela família, que na época de goiabas, faziam um verdadeiro mutirão na casa do seu Alberto. Ali o trabalho começava a ser feito as 3da madrugada e ia o dia todo.

D. Dita afirma que houve época de boas colheitas de goiaba, chegando a preparar até 3 mil quilos de doce. A qualidade era tanta que virou tradição na estrada, com clientes certos. Alguns comparecem todos os anos, para comprar as caixetas que chegam a passar mais de 10 kg.

Atualmente ela está passando o trabalho mais forte para a sua filha Cida Turíbio, que vai continuar com a tradição pois as netas já estão no trabalho do preparo. D. Dita nos deu a sua receita de goiabada.

Ingredientes- 30kg de massa de goiaba, 13kg de açúcar cristal.

Como fazer- Descascar as goiabas, limpando as impurezas. Retirar As sementes e reservar. Lavar bem as cascas. Num tacho de cobre, colocar as goiabas e os 13 litros de água. Bater as sementes das goiabas num liquidificador, peneirar e colocar também no tacho. Aí o serviço é só braço. Ir mexendo sempre até ficar no ponto. Esse ponto algumas doceiras afirmam que é quando o doce não esta pingando mais. Outras pegam um pouco de doce na ponta de uma faca e batem na mão. Não pode estar grudando.

NO PRESENTE, DE VOLTA AO PASSADO.

Com o super fusca-móvel 4×4, subimos há quase 2.000 mil metros de altitude. Fui parar na Estação Ecológica de Bananal, bem no topo da Serra da Bocaina. Ouvi falar que no meio da mata ainda existe a Trilha do Ouro que na realidade é a Estrada do Ariró, construída à mão de escravos por volta de 1830, para transportar o café até Angra dos Reis, onde ainda existe um bairro com o nome de Ariró.

Fiquei impressionada quando vi aquela estrada estreita, toda de pedra. Logo imaginei as duzentas mulas carregadas de café, o barulho dos cincerros, os tropeiros… Até me arrepiou.

E depois de “reviver” o passado, voltei à realidade e seguimos em frente. Fui até as instalações da estação ecológica, chegando lá fomos recepcionados pelo Beto diretor da Estação e ele me apresentou a sua cobra, uma simples Urutu. No qual eu fiquei morrendo de vontade pegar, porém a coragem não foi suficiente. E conversa vai conversa vem, reparei num bicho meio estranho, meio fora do normal, quando puxei o matinho dei de cara com um besouro-gigante, era gigante mesmo. Olha só a foto.

Depois fui pro computador, onde o circuito fechado da Estação fotografa os animais que por ali passam. O Beto me mostrou catetos, onças, veados, paca e muitas aves. Dava pra ficar o dia todo vendo as centenas de fotos de animais, mas….

E depois desse contato direto com esses animais fora do comum no meu dia-a-dia, fui conhecer a cachoeira Sete Quedas. Com sete saltos, formam uma cachoeira de 350 metros, mas vi só a última queda. Um verdadeiro paraíso.

Bolinho de peixe está esquecido


O tradicional bolinho de peixe, feito por muita gente da roça, durante a quaresma e semana santa anda meio esquecido.

Por isso nossa reportagem foi até o bairro do Itapeva, buscar essa tradição. Lá com o pescador Zé Eugênio, D. Luiza Moura, D. Nica, com Seu Altino, seu filho e netos, fizemos uma verdadeira festa do bolinho.

A primeira etapa foi mariscar pelos ribeirões, buscamos os pequenos guarus, lambaris e pitus. Esse tipo de pesca também anda meio esquecido, mas é uma tradição antiga dos tempos de quaresma. Depois da pesca, todo o peixe foi limpo e a festa continou na cozinha da D. Nica, onde um vistoso fogão à lenha foi cenário para esta delícia.

D. Nica usou para a receita, ½ kg de farinha de milho e 100g de polvilho doce e uma pitada de sal. Misturou tudo, com as mãos, esfarelando bem a farinha. Com água quente, preparou a massa em ponto firme. Depois foi só fazer um bolinho com as mãos e grudar um peixinho por fora. Os peixinhos devem ser limpos e temperados com sal e alho. Depois de frito em gordura bem quente, foi só saborear. O propósito de se colocar o peixinho por fora era para que as pessoas que iam comer tivessem certeza de que o bolinho não continha carne por dentro.

Zé Eugênio lembrou muito bem, que o costume é para que não se comesse carne neste tempo. Lembra que sua avó considerava um sacrilégio comer carne nessa época. Então as famílias faziam a criançada entrar nos ribeirões e mariscar bastante peixes miúdos para o bolinho.

Um detalhe interessante deste bolinho, é que daí originou –se o famoso bolinho caipira. Com a necessidade de se colocar a carne ele acabou tomando forma arredondada e recheio por dentro.

Faziam ainda a farofa dos pituzinhos e guaruzinhos e também a moqueca. Para a farofa é só fritar os peixinhos e pitus, com sal com alho e colocar farinha de mandioca. Para a moqueca, faz uma massa com água fria, de farinha de milho, com um pouco de polvilho doce, mistura-se um pouco de peixinhos e coloca-se numa folha de caeté, amarrando, como se fosse uma pamonha. Depois assava, colocando no meio da brasa do fogão.

Bolinho de Lambari

Ingredientes – 1 Kg de farinha de milho, 2 xícaras (chá) de polvilho doce, 2 copos de água, 1 Kg de lambari pequeno, 1 colher (sopa) de sal.

Como fazer – Limpar os lambaris, cortar ao meio e colocar ao sol para secar. Na hora de fazer o bolinho, dilua o sal na água fria. Misture a farinha de milho e o polvilho e depois colocar na água salgada. Mexer bem e fazer a massa colocando mais água se necessário. Deixe em ponto firme. Pegue uma colherada de massa e grude um pedaço de lambari por fora. Frite em gordura média, para não ficar cru por dentro.