Category Archives: vale do paraiba

No caminho de Nossa Senhora dos Remédios

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº12 de Setembro de 2001. 

Leia e se delicie, e se for fazer o caminho até a Capela de Nossa senhora do Remédio você pode conferir o que ainda esta lá, e o que o tempo já levou, assim como o João Rural.

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos de festas anteriores, ou direto no link:  http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/DEYq2QDyjMod.pdf , para visualizar a matéria original;

O Caminho de Nossa Senhora do Remédio começa na Vila de Fátima, seguindo em direção a Fazenda Laranjeiras. Com apenas 1km, entra-se a esquerda, subindo um morro de pelo menos 2km. Quase no final, à direita, mora uma das filhas do Seu Aristides, que ainda faz a famosa farinha de mandioca.
Virando o morro no Km 4,5, chega-se no cruzamento com a estrada que vai pro Porto. Segue-se por ela, passando pelo Alambique do Jotinha. No km 10, chega-se ao cruzamento da Fazenda do Porto. Seguindo a estradinha no km 10,5 , está uma Santa Cruz. Aqui histórias verdadeiras se misturam com lendas. Dizem os antigos que neste local havia um cemitério de negros mortos nas fazendas da região, por isso a Santa Cruz. Há alguns anos, quando os novos proprietários foram arar terra no local, encontraram realmente várias ossadas. Resolveram parar tudo, colocar terra por cima e arrumar a Santa Cruz, em memória desses mortos do passado.

Mirante do Remédio

Mirante do Remédio

Seguindo no km 13, chega-se à Fazenda dos Silvinos , onde encontramos o Seu Vicente Lobato descarregando leite de sua tropa. No km 14, chega-se ao Sitio Velho, onde uma cachoeira é atração. À beira da estrada pode-se entrar e refrescar um pouco da viagem.

Seguindo, passamos pela Fazenda Pau D’Alho(parte antiga). No km 15, chega –se à casa do Seu Luiz Gomes Vieira, um mineiro sorridente, com 78 anos de idade e aina trabalhando na lida. Seu Luiz conta que chegou ao lugar em 1932, trazido para trabalhar numa lavoura de algodão do produtor Vitor Ardito que era de Pindamonhangaba. Conta que quem tomava conta desta fazenda na época era Seu Manoel Carvalho, que era dono da chácara do Bairro do Caracol.

Seu Luiz Lembra Muito bem das antigas festas do lugar. Na noite de 7 de setembro, o vale se enchia dos sons dos atabaques dos negros jongueiros que viravam a noite em volta da fogueira.

Seguindo, no km 16, passamos pelo local que era a sede da antiga Fazenda Pau D’Alho original. Local de muitas histórias estranhas, protagonizadas pelo seu antigo proprietário, o Major Soares.

Os restos da antiga fazenda, com paredes de taipa e pau-a-pique, ainda estão de pé. Seu atual proprietário Pedro Fonseca, de Salesópolis, está reformando a casa, que pretende conservar.

Estrada acima, pois a subida mais forte começa aqui. No km 17, passamos pela casa do Seu Vicente Lobato, onde vive com a família, faz pequenas lavouras e cria gado de leite. Sob um cocho de sal para o gado, guarda duas pedras do antigo moinho da Fazenda Pau D’Alho.

Voltamos à estrada, porque daqui pra frente a subida é das mais puxadas. Até o topo da Serra do Remédio são apenas mais 2 km, mas sobe-se de 800 metros de altitude, parar 1.100 no local da igrejinha. Até o Cruzeiro a altitude chega a 1.197 metros, sendo uma das maiores do município.

No km 18 , depois de pelo menos três horas de caminhada a parada é na casa do Seu Antonio Lobato, onde pode-se tomar uma água, descansar um pouco e rezar na capela do seu quintal. Ele diz que esta capela também é antiga, com uma cruz e objetos todos de madeira . Seu Antonio é um dos que tem muitas histórias do local, escutadas dos antigos, principalmente de “Tia Joana”, como eles chamavam a D. Joana Parente, uma negra, descendente de escravos que morava ali.

Seu Antonio ainda guarda como lembrança o antigo pilão de D. Joana. Feito de peroba, gasto pelo uso , deve ter mais de cem anos. Como autentico homem da roça, Antonio diz que nunca tomou remédio de farmácia. Está com diabetes, mas usa somente as plantas Pata de Vaca e até Insulina, que tem plantada no seu quintal.

Altar Nossa Senhora dos Remédios

        Altar Nossa Senhora dos Remédios

Morro acima, e mais 1km chega-se finalmente à Capela do Remédio. Mais 500 metros a conquista do topo onde está o antigo Cruzeiro, lugar que por si só tem um visual indescritível do Vale da Fartura. Em dias  claros, enxerga-se a Pedra do Baú, na Serra da Mantiqueira, e de noite as luzes de São José dos Campos O Cruzeiro esta ali abençoando as antigas histórias e lendas. Em contraste ali estão várias antenas de comunicação. por onde passam hoje as  histórias e lendas do mundo todo.

Tira Gosto

_________________________________________________________________


Bolinho Caipira vai bem como tira gosto
A origem do termo tira-gosto se perde na história. Tudo dependia da criatividade e dos ingredientes que cada um possuía. Muitos desses aperitivos se perderam na história, ou simplesmente foram relegados a segundo plano depois do surgimento dos petiscos modernos.
Quer seja numa simples cozinha caipira ou numa suntuosa cozinha das fazendas remanescentes do café, o tal de tira-gosto é figura marcante. Quem chega na hora das refeições diárias sempre é convidado pra saborear um petisco saído quentinho.
Pode começar por descer um pedaço de toucinho do fumeiro e transformá-lo num delicioso torresminho pururuca. E tem a linguicinha de porco, fina, defumada, pronta pra ser consumida. Em muitos lugares ainda tem as tripas de porco, que depois de fritas, viram iguaria das mais deliciosas. Em seu tempo, jogado nas cinzas, saem os pinhões torradinhos. E por falar em torradinho, tem sempre o amendoim, torrado na casca mesmo e também por entre as brasas.
E quando pipocam as pipocas, ou com um pouco mais de trabalho os bolinhos fritos. Pode ser de inhame, o tradicional caipira ou o bolinho de ovo. Sem falar da mandioquinha frita, amarelinha e sequinha.
E tudo isso pode vir acompanhado de um trago de uma boa cachaça, que é pra abrir o apetite.


Conversas acalorada elevaram um simples bolinho de farinha ao assunto mais comentado da cozinha caipira valeparaibana.
E, como sempre, as opiniões são de que sua origem é dessa ou daquela cidade. Definições que acabam se perdendo, pois todos querem dizer que fazem o melhor.
Deixando as divergências de lado, o bolinho pode ter nascido até por acaso. É sabido que nos séculos passados a escassez de alimento era notória. Então, alguém enjoado dos pirões de farinha, resolveu amassar um punhado e assar. Ficou bom. Depois resolveu fritar. Lógico que ficou melhor ainda.
Depois alguém resolveu colocar uns pedaços de carne no recheio, e o sabor melhorou. Ah! Linguiça de carne de porco, pois de boi quase não existia. Na quaresma, alguém resolveu colocar um peixinho por fora, pra atrair os que resguardavam o período.
Alguém resolveu colocar carne moída, quando chegou o gado no Vale. E outro alguém resolveu usar a farinha amarela, pois os primeiros bolinhos eram de farinha branca.
Quem veio primeiro: o bolinho de carne ou o de peixe? É melhor não esticar a prosa. Então, como tem muito “alguém” nesta história, o bolinho caipira é uma criação coletiva e, o principal, do nosso Vale do Paraíba.

Bolinho Caipira

Ingredientes – 2 xícaras (chá) de farinha de milho, 1 xícara (chá) de farinha de mandioca, 1/2 kg de carne de músculo de boi, sal com alho, cheiro verde, 3 limões, pimenta-do-reino, 1 colher (sopa) de sal.

Como fazer – Corte a carne em pedacinhos, refogue com os temperos e deixe cozinhar. Quando amolecer, separe o caldo e desfie a carne, misturando o cheiro verde bem picadinho e o caldo do limão. Numa bacia, misture bem a farinha de milho e a farinha de mandioca e coloque o caldo da carne aos poucos, mexendo até formar uma massa firme. Com a mão, enrole os bolinhos e coloque um pouco da carne como recheio. Frite em gordura bem quente.