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Um museu caipira na rede

O site chaocaipira.org.br disponibiliza cerca de três mil páginas de texto, 100 horas de filmagens e dez mil fotografias

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O Instituto Chão Caipira “Malvina Borges de Faria”, com sede em Paraibuna, completa sete anos neste 1º de abril de 2017. Não é mentira! E, desde a morte do jornalista e pesquisador paraibunense João Evangelista de Faria em 2015, o João Rural, a equipe do instituto vem se dedicando a uma série de iniciativas com o objetivo de divulgar a sua obra e seu rico acervo doado para a organização, inteiramente dedicado à cultura do Vale do Paraíba. Para esse objetivo, no fim daquele ano, o Chão Caipira foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Isso possibilitou a construção de um portal de internet (www.chaocaipira.org.br) que serve como plataforma digital de parte do acervo de João Rural.

A seleção do material foi feita de forma a valorizar a diversidade de temas abordados por João Rural ao longo de sua vida. Profundo conhecedor da região, ele se dedicou a pesquisar e divulgar aspectos tão variados como culinária regional, o modo de vida dos tropeiros, manifestações religiosas e festas populares.

Assim, ao longo do ano de 2016, foram digitalizados e disponibilizados para pesquisa no site para pesquisa cerca de três mil páginas de texto, 100 horas de filmagens e dez mil fotografias do acervo hoje disponível na sede da instituição.

Para textos, foram privilegiadas algumas das publicações produzidas por João Rural, como o jornal Folha da Serra, editado na década de 1980 e 1990, e a revista Nascentes, dedicada ao turismo e à cultura do Vale do Paraíba. No site, é possível também encontrar alguns dos livros escritos pelo jornalista, como o romance As Quintilhanas.

Já entre os vídeos selecionados, há desde reportagens produzidas para a TV Chão Caipira, como a íntegra de programas de João criados para tevê. Em comum, todos eles documentam algum aspecto das manifestações culturais da gente da região. Especial destaque merece ser dado a algumas filmagens mais antigas, recuperadas pelo pesquisador, datando de mais de 50 anos atrás, feitas em festas juninas e ocasiões solenes.

O acervo fotográfico, por sua vez, oferece uma pequena amostra das mais de 70 mil fotos e negativos sob a guarda da entidade. As fotos escolhidas estão plenamente acessíveis ao público e em ótima resolução. Além disso, o site oferece um sistema que permite ao visitante buscar todo o material por assunto ou palavras-chave.

A disponibilização da obra construída por João ao longo de sua vida ajuda a confirmar a vocação do Vale do Paraíba como depositário importante da memória e da cultura do interior paulista. Afinal, faz décadas que os modos de vida da região vêm prestando contribuições importantes para a vida cultural do estado como um todo.

Muitos foram os artistas e pesquisadores que encontraram no Vale do Paraíba um lugar privilegiado para a elaboração de seus trabalhos. E o grande mérito de João Rural foi ter remado contra as correntes que vaticinavam a decadência ou o fim da cultura caipira e mostrado que ela continua viva e pulsante, como uma simples visita ao site pode comprovar.

Francisco Dias de Andrade é Doutor em História pela Universidade Federal de Campinas.