Monthly Archives: novembro 2017

Farofa de formiga, vai bem

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 1 Outubro de 2000, parte II

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A tradição de comer içá mais do que nunca, está viva em nossa região. Perdem-se no tempo quando começou. A iguaria sempre foi apreciada pelos brasileiros, desde mais simples até personalidades, como Monteiro Lobato. Mais recente, o padeiro Anquir, aquele que fez sucesso na copa da frança e casou com Deborah Bloch, descobriu a içá na região do vale histórico. Levou para seu programa de receitas na TV e tornou-se um dos apreciadores afirmando que iça é uma das iguarias exóticas do Brasil que deve ser divulgada. Em Paraibuna sabemos de muita gente que gosta. Alguns procuram esconder isso, mas outros fazem questão de contar. Claudio Reis, João Guará são alguns exemplos. O costume de se comer iça vem de séculos. Como começou se perde no tempo. Pesquisadores dizem que jesuítas é que forçaram o costume, fazendo o povo comer acreditando que assim dizimavam as formigas saúvas. Outros afirmam que o costume vem dos índios mesmo, quando era chamado de “comida dos bugres”. Dúvidas a parte, interessante é que nos últimos anos o costume tem ganhado o interesse da imprensa, com reportagens e divulgação de receitas com içá. Segundo os antigos a içá que é a rainha do formigueiro, aparece sempre no mês de outubro até o começo de novembro dependendo do tempo. Depois de uma chuva com trovões as iças são empurradas do formigueiro, para fazerem seus vôos nupciais. Antes saem os “sabitús”, que são os machos. No vôo chamado de nupcial, fazem o cruzamento em pleno ar. Em alguns locais são tantos que conseguem fazer uma nuvem em frente ao sol. Depois do cruzamento, descem cortam suas próprias asas e faz um buraco na terra para iniciar seu formigueiro. Mas poucas tem sucesso. Tem até mesmo içás que saem de manhã e as que saem à tarde, sempre depois de um mormaço. Os moradores da roça dizem até mesmo que tem um “sol de içá”, indicando que elas vão fazer vôo naquele dia.

Monteiro

Monteiro Lobato, em 1945 quando morava ainda e São Paulo solicitou e recebeu uma latinha de içá de sua prima Beijoca. Para agradecer enviou a seguinte carta:

“Beijoca recebi a latinha de içá torrado. Creio que ainda gosto disso apenas como meio de me recordar do Taubaté do meu tempo, uma coisa que já nada tem que ver com Taubaté de hoje. Mas foi você incomodar dona Silvina… Para mim foi muito bom, porque me rendeu o bilhetinho que ela lhe mandou, com o pedido em troca de içá, de um pensamento sobre içá… a sugestão me perturbou, porque nunca no mundo ninguém jamais “pensou” sobre içá e pelo jeito é realmente a coisa “impensamentável”, mas já que a dona Silvina pede, faço um esforço e digo que o “IÇÁ É O CAVIAR DA GENTE TAUBATEANA”. Como você sabe, o famosíssimo e apreciadíssimo caviar da Rússia é a ova dum peixe de nome esturjão: e que é o abdômen (vulgo bundinha) do içá senão a ova da formiga saúva? Adeus, Beijoca. Saudades a todos dai e meus cumprimentos a dona Silvina. Zé bento ( José Bento Monteiro Lobato)”.

João Rural com Douglas (depósito Martelo)

João Rural com Douglas (depósito Martelo)

Fogão do João Rural -  Douglas  comendo iça

Fogão do João Rural –
Douglas comendo iça

Esplendor de uma ideia

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 8 maio de 2001 parte I

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Em 13 de junho de 1899, o Major Eduardo José de Camargo, resolveu promover a Construção de um hospital na cidade, começando com a renda da festa daquele ano. Formaram-se então, uma comissão com os Srs. Cônego Antonio M. de S. Almeida, Major Eduardo José de Camargo, Comendador José Pereira de Faria, Cel. José de Porfírio da Silva, Cap. Juvenal de P. Madureira e Anthero Carlos de Miranda. No dia 5 de maio foi lançada a pedra fundamental, com a construção em andamento feita pelo arquiteto João Vitelli, que concluiu em 29 de dezembro 1901.

Em 1909, o Almanach Parahybuna citava pessoas que ajudaram a entidade no seu inicio: Sr. Major Eduardo J. de Camargo, que doou grande número de tijolos, o Cônego Antonio Moreira, o Sr. Olegário J. Ortiz, que deram a Santa Casa $500 e $100, os Srs. Juvenal de Paula Madureira, Guilherme F. Moura e José P. de Faria que doaram vasilhame e medicamentos e a Sra. Júlia Cantinho que doou obras e objetos de farmácia, Padre Francisco Filippo, que doou uma casa, sito a Rua Major Soares e uma parte de terra do bairro Escaramuça.

Santa Casa de Paraibuna

Santa Casa de Paraibuna

Santa Casa

Santa Casa de Paraibuna

Paraibuna nas Olimpíadas de 32

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 2 novembro 2000-parte II

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Em 1932, Paraibuna acabou entrando para a história das Olimpíadas. A equipe do Brasil. formada por poucos atletas, e que disputou jogos nos Estados Unidos, voltou de navio para Casa. Iam desembarcar no Rio de Janeiro, para depois seguirem para São Paulo. Mas acontece que o Brasil estava em plena Revolução Constitucionalista e a fronteira perto de Bananal e Queluz estava completamente fechada. Com isso, os atletas desembarcaram no Porto de São Sebastião, subiram a serra a pé e de lá, um caminhão de aluguel trouxe a turma para a cidade. Onde inclusive tiraram uma foto na praça.Da cidade, foram enviados de caminhão para a estação  de trem de Caçapava, onde embarcaram para São Paulo.

Futebol masculino Paraibuna década de 70

Futebol masculino Paraibuna década de 70

 

Região Rosário

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 01 Outubro de 2000

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No dia 2 de novembro é hora de reverenciar nosso entes queridos que já se foram. Como todos, o cemitério de Paraibuna recebe muitos familiares, tornando a entrada local um encontro de velhos conhecidos. Além desse reverenciamento, nosso cemitério tem ainda outra atração que já virou folclore nacional. A frase do portão que todos conhecem, já foi personagem de dois filmes. Noites de Iemanjá, na década de 60 e agora o filme documentário do cineasta Masagão.

A frase foi colocada por um padre, no começo deste século, com o objetivo de lembrar aos católicos que os mortos precisam sempre ser reverenciados com rezas. Com o tempo a frase colocada no portão acabou ganhando outra interpretação, Folclórica é claro e se tornou uma marca da cidade, citada por muitos que por aqui passaram ou passam.

“Nós que aqui estamos por voz esperamos” quase foi retirada do local, sendo até tampada com madeira, mas o bom senso acabou vencendo e ela continuou lá.

A partir da década de 50, começou sua difusão com o asfaltamento da estrada para Caraguatatuba, o movimento de turistas aumentou significativamente. Um dos pontos da parada era nos bares que existiam em frente ao cemitério. No inicio da década de 60, um acidente com dois aviões encheu o cemitério de vitimas.  Com elas veio a imprensa que deparou com a frase e divulgou a para todo o Brasil.

Recentemente o cineasta Marcelo Masagão batizou seu documentário que mostra imagens de morte com a frase. O filme participou do Festival de Cinema de Gramado, onde foi premiado. Colocou no filme imagens do cemitério e do portão, encerrando sua obra. A inspiração do cemitério veio de suas passadas por Paraibuna, onde tem parentes na família Camargo.

Em suas entrevistas ele nunca contava onde tinha tirado a frase, mas acabou falando no programa do Jô Sares no SBT.

A história

A frase do portão do cemitério de Paraibuna foi inspirada na realidade em outra frase que é comum nos cemitérios de Portugal:

“NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VOSSOS OSSOS ESPERAMOS”

Portão do cemitério de Paraibuna

Portão do cemitério de Paraibuna