Tag Archives: folclore

O lobisomem da Rua da Bica

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link:

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/mMkbA2TxbTcA.pdf

Foi na década de quarenta. Século passado. Por um bom tempo, o lobisomem fez a festa na Rua Bica. Um comerciante do largo do Mercado tinha um problema de saúde, uma asma crônica, aparente mesmo no seu estado normal de saúde, vivia constantemente com dificuldade respiratória. À noite, quando a crise apertava, sem poder dormir, saia pela rua em busca de ar puro e passar o tempo. Só que, nessas caminhadas, muitos fatos eram flagrados, namoros proibidos, visitas estranhas em casas estranhas e muito mais. O comerciante era também cartomante, gostava de tirar sorte e ler as mãos. Esses flagrantes aumentavam os seus conhecimentos, fortalecendo o seu conceito. Então, começou a sair à noite cada vez mais.           Na Rua da Bica tinha muitos cachorros. Residiam ali, caçadores, como os senhores Santinho Vitu, Seu Ivo, Seu Serafim e outros. Em cada passada pela rua, os cachorros ficavam barulhentos, uivavam e latiam muito, até que um dia alguém viu algo estranho, parecido com um lobisomem. A notícia se espalhou, chegando ao conhecimento do comerciante. Uma boa, além de sua caminhada pela rua, ele provocava os cachorros para que o barulho fosse mais forte.

Naquela época, era comum os homens usarem uma capa de feltro, grossa, de cor escura, comprida até os pés, para se proteger do frio, chuva. Quando cavalgando, protegia também os cavalos. O comerciante usava uma dessas capas. O lobisomem cada dia ficava mais famoso e o comerciante se divertindo cada vez mais. Cada morador contava uma história, todos viram alguma coisa, mas a imaginação era para o lobisomem.

Alguém tinha que tomar providência. Até que os caçadores resolveram por fim na história. Fizeram uma reunião. Tudo acertado. Ficar de tocaia, armados com cartucheira e tudo, foi a proposta aprovada. O comerciante participou da reunião. O lugar estratégico era o quintal da casa do Bento Maia, muito grande e com uma criação de galinhas e frangos de onde todas as semanas sumiam um. Certamente o lobisomem estava comendo.

No dia marcado, uma sexta-feira, também com a participação do comerciante, o plano estava sendo executado. Meia noite. Um barulho no quintal. As galinhas acordaram, todos foram para o local. Um tiro. Aquela correria. Seria o lobisomem? Com certeza. Foi uma festa. Logo de manhã todos procuravam vestígios e encontraram gotas de sangue próximo à cerca de taquara e arame farpado. Pela lenda, o encanto do lobisomem teria acabado. Ele não voltaria mais.

Na verdade, era um ladrão de galinha que foi pego de surpresa e se arranhou todo na cerca. Passado muito tempo, o comerciante, debaixo de muito segredo, resolveu contar tudo a seus principais amigos. Nada poderia ser revelado, para não quebrar o seu conceito de homem honesto e honrado e para não ter que prestar conta de tudo que ele sabia a respeito do proibido. Essa é mais uma lenda entre as muitas que surgiram na Rua da Bica.

folclore

Bica d'água 1980

Bica d’água 1980