Monthly Archives: dezembro 2017

O lobisomem da Rua da Bica

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Foi na década de quarenta. Século passado. Por um bom tempo, o lobisomem fez a festa na Rua Bica. Um comerciante do largo do Mercado tinha um problema de saúde, uma asma crônica, aparente mesmo no seu estado normal de saúde, vivia constantemente com dificuldade respiratória. À noite, quando a crise apertava, sem poder dormir, saia pela rua em busca de ar puro e passar o tempo. Só que, nessas caminhadas, muitos fatos eram flagrados, namoros proibidos, visitas estranhas em casas estranhas e muito mais. O comerciante era também cartomante, gostava de tirar sorte e ler as mãos. Esses flagrantes aumentavam os seus conhecimentos, fortalecendo o seu conceito. Então, começou a sair à noite cada vez mais.           Na Rua da Bica tinha muitos cachorros. Residiam ali, caçadores, como os senhores Santinho Vitu, Seu Ivo, Seu Serafim e outros. Em cada passada pela rua, os cachorros ficavam barulhentos, uivavam e latiam muito, até que um dia alguém viu algo estranho, parecido com um lobisomem. A notícia se espalhou, chegando ao conhecimento do comerciante. Uma boa, além de sua caminhada pela rua, ele provocava os cachorros para que o barulho fosse mais forte.

Naquela época, era comum os homens usarem uma capa de feltro, grossa, de cor escura, comprida até os pés, para se proteger do frio, chuva. Quando cavalgando, protegia também os cavalos. O comerciante usava uma dessas capas. O lobisomem cada dia ficava mais famoso e o comerciante se divertindo cada vez mais. Cada morador contava uma história, todos viram alguma coisa, mas a imaginação era para o lobisomem.

Alguém tinha que tomar providência. Até que os caçadores resolveram por fim na história. Fizeram uma reunião. Tudo acertado. Ficar de tocaia, armados com cartucheira e tudo, foi a proposta aprovada. O comerciante participou da reunião. O lugar estratégico era o quintal da casa do Bento Maia, muito grande e com uma criação de galinhas e frangos de onde todas as semanas sumiam um. Certamente o lobisomem estava comendo.

No dia marcado, uma sexta-feira, também com a participação do comerciante, o plano estava sendo executado. Meia noite. Um barulho no quintal. As galinhas acordaram, todos foram para o local. Um tiro. Aquela correria. Seria o lobisomem? Com certeza. Foi uma festa. Logo de manhã todos procuravam vestígios e encontraram gotas de sangue próximo à cerca de taquara e arame farpado. Pela lenda, o encanto do lobisomem teria acabado. Ele não voltaria mais.

Na verdade, era um ladrão de galinha que foi pego de surpresa e se arranhou todo na cerca. Passado muito tempo, o comerciante, debaixo de muito segredo, resolveu contar tudo a seus principais amigos. Nada poderia ser revelado, para não quebrar o seu conceito de homem honesto e honrado e para não ter que prestar conta de tudo que ele sabia a respeito do proibido. Essa é mais uma lenda entre as muitas que surgiram na Rua da Bica.

folclore

Bica d'água 1980

Bica d’água 1980

História do presépio

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 15 dezembro de 2001 parte I

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O presépio de Paraibuna começou a ser realizado em 1977 pela D. Maria Diva Fontes Rico, com figuras compradas em Aparecida. O primeiro foi montado em um dos cantos do jardim da Praça da Matriz. Em 1978 ganhou sua primeira produção típica, sendo montado no Largo do mercado. Naquele ano houve ate apresentação das pastorinhas, relembrando os antigos natais da cidade.

Em 1979, voltou para a praça da matriz, onde ficou pelos outros anos. Em 1983 foi apenas uma pequena casinha de sapé na praça. Em 1985, o artesão Carlinhos entra na história, começando a mostrar sua arte e decorar o presépio e, aos poucos colocando suas figuras.

O presépio chegou a ser montado mais dois anos no Largo do Mercado, mas voltou à praça da matriz, onde permanece ate hoje.

Presépio do Carlinhos

Presépio do Carlinhos

Carlinhos

Carlinhos

É tempo de Folia de Reis

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 15 dezembro de 2001 parte II

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A Folia de Reis é uma tradição que veio de Portugal. La os foliões saiam às ruas para divertir o povo, pois neste período é inverno na Europa.

Quando chegou ao Brasil a Folia ganhou características religiosas, saindo pelas roças, visitando presépios e pedindo esmolas para a Festa de Santos Reis que acontece dia 6 de janeiro. Segundo os participantes o rito evoca a visita dos três Reis Magos que foram visitar o Menino Jesus: Baltazar, Melchior e Gaspar.

Saem sempre à noite, porque acompanham a estrela que mostrou onde estava Jesus aos Reis. É costume das folias começarem a sair antes do Natal e cantar ate o dia 6 de janeiro. Algumas continuam ate o dia 2 de fevereiro que é o dia de Nossa Senhora das Candeias, venerado antigamente como o dia de desmontar o presépio.

Existem as Folias Mineiras e as Paulistas. As Mineiras têm sempre vários componentes, entrando acordeom, triangulo e outros instrumentos. Varia o numero de músicos, chegando ate a dez elementos. A Paulista tem apenas quatro músicos tocando violão, viola, pandeiro e caixa. Os músicos são geralmente conhecidos como Mestre, Contra-Mestre, Contrato e Tipe.

Todas as Folias carregam a Bandeira de Reis, feitas de cetim e com muitas fitas. O responsável pela bandeira é conhecido por Alferes da Bandeira ou Bandeireiro, dependendo da região.

As Folias de influencia mineira têm na frente os três palhaços que podem representar os três Reis Magos. Usam roupas coloridas e máscaras feitas de varias maneiras, dependendo da região. Cabe a eles pedir licença para chegar numa casa, pedi donativos e abrir caminho para os cantores. Fazem acrobacias e dançam acompanhando a música.

A música de reis segue sempre uma linha chorosa, onde cada grupo cria seus versos. Geralmente dividido em três partes. A entrada, a louvação e o agradecimento aos moradores da casa, que sempre oferecem os comes e bebes, para todos os foliões e acompanhantes.

Folia de Reis

Folia de Reis

Folia de Reis

Folia de Reis

Histórias da Rua da Bica (por José Déia)

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 03 dezembro de 2000 parte III

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Lembro-me ainda quando criança, na Rua da Bica local onde fui criado, senhoras, senhores, jovens e crianças que desciam da Rua Nova, se reuniam em frente à Bica. Depois de tomarem um estimulante café nos botequins dos Srs. Bento Maia, Chico Neves, Berto Vitu, Zé Pinto (marido de D. Sofia) seguiam como em procissão para as colheitas, na Fazenda da Barra, Fazenda dos Barretos, Fazenda do D. Nicanor de Camargo Neves e Vila Camargo. Era na época a principal fonte de renda no período das colheitas.

Ainda conheci, por ultimo, o avô de nosso amigo Cecílio Rocha, o Sr. Severino Pires, que foi o responsável pelo comercio e fornecimento de café para os comerciantes e população da cidade, na década de 50. Naquela época tínhamos na Rua da Bica cinco lojas. A do Seu Serafim, a do Turco Miguelzinho, do Raul Stefano, nosso amigo Jose Daher e do Seu Chafim, que também foi dono do Cine Santo Antonio, antes do Dito Santo e do Celso Ladeira.

Tinha quatro grandes armazéns, famosos pelos seus potenciais. Armazém do Seu Ivo, Bento Maia, Zé Pinto e Augusto Rico e mais os do Seu Chico Ventura e do Seu Leal no largo do Mercado.

Tínhamos botequins e pensões de ponta a ponta da rua, e ainda mais três barbeiros, o Seu Gradim, Seu Antenor e o Seu Argentino. Ficava ali a mais famosa das pensões. A pensão do Joaquim Mariano para homens e animais, eqüinos ou bovinos. Tinha como gerente o Seu Chico Belarmino e atendia a todo tipo de pessoas. Tinha três categorias: a primeira era cama com colchão de palha de milho, na segunda tinha esteiras de taboa no chão e na terceira dormia-se no “cabide” de preferência pendurado.

A comida também tinha três categorias. Com prato de louça e garfo, com prato de ágata e colher ou simplesmente numa lata, de preferência daquelas redondas de goiabada. Todos os pratos eram acompanhados de um aperitivo, gratuitamente.

Bica d'água ano de 1980

Bica d’água ano de 1980

Histórias verdadeiras que viraram folclore (por José Déia)

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 11 agosto de 2001 parte I
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O nosso rio era rico em historias e lendas. Me lembro de uma que dizia que uma bíblia foi jogada no Paraíba, por um malfeitor, contrario aos princípios da Igreja Católica e , em represália, o pároco da época falou o seguinte:

“- A bíblia será devolvida. O rio vai devolvê-la, trazendo-a de volta e deixando-a no altar mor da igreja Matriz”.

Esta historia foi pesadelo por muitos anos. A situação piorou ainda mais quando surgiu o boato da construção de duas grandes barragens em Paraibuna. “é a profecia”, diziam os antigos, “a represa pode estourar e as águas chegarem até o altar”. Para esta lenda, tenho uma atenuante. Na época em que deu inicio a historia toda, a única igreja da cidade era a igreja do Rosário (1880 a 1900). A nova matriz estava sendo construída. E uma enchente levou as águas ate sua porta principal, mas nada aconteceu. A grande enchente de 27 de fevereiro de 1958 também chegou à porta, mas nenhuma bíblia apareceu. Até hoje, nada aconteceu (ainda).

Outra lenda contava que certa mãe havia jogado seu filho recém nascido nas águas do Paraíba. Esta criança se transformou em uma serpente, dormia com o rabo em baixo da igreja do Rosário e a cabeça em baixo da igreja da Matriz. De quando em quando ela se reacomodava, tremendo a terra, e se ela acordasse, Paraibuna seria destruída.

Para confirmar esta lenda, tivemos os grandes tremores de terra, oriundos das acomodações de terra da Represa Paraibuna/Paraitinga. Na ocasião, os antigos acreditavam que a lenda se confirmaria em fato real. Mas nada também aconteceu.

A explicação mais aceita para o ocorrido foi puramente técnica. Paraibuna esta sobre uma falha geológica, denominada “Falha de Taquaxara”, que começa em Bauru e termina em Angra dos Reis. Por isso os abalos já aconteciam no passado, bem pouco, mas com a represa eles aumentaram, devendo continuar até o final dos tempos.

Cidade de Paraibuna na década de 70

Cidade de Paraibuna na década de  70

Igreja do Rosário

Igreja do Rosário