Category Archives: Sem categoria

Betinho e a Fonte do Imposto de Renda

Esta matéria foi escrita por João Rural em Memórias de Paraibuna – Zé Borracha – Caderno culturais 2.

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link: 

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/k2ed3ajNTsqB.pdf

Betinho Camargo, quando vereador em Paraibuna, foi um caso atípico. Ás vezes, distraído, vinha à sessão de câmara em dia errado. Ás vezes vinha um dia antes, e, claro, esperava até a sessão. Mas quando vinha depois, sempre tinha desculpas, era a ferradura do cavalo que tinha soltado e atrasado sua viagem ou em alguns casos chegava a culpar o horário de verão, pois ao invés de atrasar ele tinha adiantado o relógio – diferença do fuso horário ou o horário confuso tinha provocado aquela situação.

O tempo passava e já estava na metade de seu mandato. Não tinha apresentado nenhum projeto. Já tinha gente apostando, ou participando de bolão, cada um dando seu palpite se até o final do mandato ele iria ou não enviar um projeto à Câmara.

Certa vez, teve uma sessão extraordinária que varou a madrugada, e, dias depois, reunido com amigos, eu fiz o seguinte comentário: A vida é cheia de surpresas, pois na última sessão de Câmara o Betinho Camargo falou quase duas horas. Com isso quase fui agredido pela turma, achavam que era uma heresia. Se o Betinho Camargo, em mais de metade do mandato, não tinha apresentado nenhum projeto, e também não falava quase nada, como que teria falado quase duas horas? De posse da fita gravada da tal sessão, e cercado pelos apostadores e curiosos, coloquei o toca-fitas em funcionamento. Quando alguém na sessão de Câmera perguntou: Betinho, que horas são? Ele, tranqüilo, olha para o relógio e responde: Quase duas horas. No momento, levei safanões e cascudos, mas o importante é que provei o que tinha apostado e ainda ganhei uma graninha, graças ao amigo Betinho Camargo.

Tempos depois, um rebuliço na cidade. O povo não acreditava no que ouvia, pois o Betinho Camargo anunciava para quem quisesse ouvir, que na próxima sessão iria apresentar um projeto, que com certeza iria revolucionar Paraibuna. No dia da sessão, praticamente todo o povo estava lá para assistir.

Chegou o momento tão esperado. Betinho Camargo levantou-se, estava nervoso, tremia igual a uma Toyota em ponto morto. Ele ainda estava começando a sua brilhante carreira política. De repente, tomou coragem e lascou o tal projeto: Construir em Paraibuna uma fonte. Foi uma decepção geral, pois todos esperavam um projeto maluco, espalhafatoso, o que seria normal. Colocado em votação, alguns vereadores foram contra ao tal projeto, alegando que uma fonte não traria nenhum benefício e somente despesas. Betinho defendendo o projeto dizia: O que nós paraibunenses faremos então com o dinheiro do “imposto de renda”? Eu na minha santa ignorância fiquei pensando que o dinheiro do imposto de renda pudesse ser gasto em fontes ou parques, talvez. Mas a discussão continuou até que o Betinho, já nervoso, falou: Vocês vejam bem, na declaração de imposto de renda existem no formulário alguns itens como “imposto retido na fonte”, “imposto pago na fonte”, e como não temos fonte, temos que ir até São José dos Campos para fazermos a nossa declaração! Os vereadores, pouco confusos, acabaram aprovando em respeito à atitude do vereador Betinho Camargo, que finalmente havia apresentado um projeto.

A fonte foi construída perto da bomba do Agenor, e como vocês sabem, ficou muito tempo sem funcionar. Pelo que fiquei sabendo, o projeto foi aprovado, mas com a condição de não encherem de água, com receio que alguém menos avisado, ou o próprio Betinho, ao declarar ou pagar o imposto na fonte, acabasse se afogando. Hoje, com um pouco mais de esclarecimento, já foi possível reformá-la e, quando funciona, é uma linda atração de nossa cidade.

Fonte iluminosa 1981

Fonte iluminosa 1981

A história do suspeito “Chupa Cabras” em Paraibuna- por Zé Borracha.

Esta matéria foi escrita por João Rural em Memórias de Paraibuna – Zé Borracha – Caderno culturais 2.

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link: 

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/k2ed3ajNTsqB.pdf

De minha infância, no meu querido Ribeirão Branco, tenho belas recordações, fatos importantes que marcaram minha vida. Existem também fatos engraçados que aconteceram, como este que agora eu vou contar.

Foi no ano de 1969, meu amigo João Batista resolveu ir embora para São Paulo, foi tentar a sorte como diziam, ele não percebia que a maior sorte, era morar em Paraibuna, e mais precisamente no querido Ribeirão Branco. Muito bem, João foi embora, voltando somente um ano depois. Mas, não era mais o mesmo. Antes era quieto, ranhento, agora tinha se transformado. Já não se vestia como nós, andava na moda, usava óculos escuros, calça boca de sino, jaqueta com gola de pele, rádio portátil, e ainda por cima só falava gíria.

Contava as façanhas vividas na cidade grande e sempre dizia que era formado em Ufologia. Por várias vezes pensei em perguntar, o que era aquilo, mas achei melhor ficar quieto. Depois de muito falar e ninguém perguntar ele resolveu dar explicações. Ufologia, é um estudo avançado sobre ser extraterrena, criatura de outro planeta. Eu, por exemplo, já terminei a parte teórica, agora falta à parte prática.

Preciso encontrar um ser extra-terrestre, para manter contato com ele, e saber como vivem, e qual a diferença de nós seres humanos. Como quem procura encontra, um dia ele encontrou, ou pelo menos, pensou que tivesse encontrado. Um domingo a tarde fomos jogar bola no bairro vizinho, estávamos em 15 pessoas no grupo, quando o João pressentiu algo estranho. Na curva da estrada, a mais ou menos uns 100 metros, estava uma estranha criatura, media mais ou menos 1,20 m, bastante peludo, com grande cabeleira e duas orelhas de fazer inveja ao lobo. Ficamos parados com medo daquilo, mas o João Batista, não podia perder a tão sonhada oportunidade, aproximou-se para tentar um diálogo, como sempre dizia, tentar manter um contato. Ele estava a uns 20 metros, daquilo que também podia ser o chupa cabra, e então escutamos o João falando:

– João Batista, terráqueo, formado em Ufologia, querendo manter um contato. Ele só obteve o silêncio como resposta. Vimos quando ele aproximou-se mais e repetiu a mesma papagaiada:

– João Batista, terráqueo, formado em Ufologia, querendo manter um contato. A criatura continuava imóvel sem nada responder. Fomos criando coragem e se aproximando daquela cena inusitada. O João já perdendo a linha com a estranha figura, colocou a boca bem perto da enorme orelha e repetiu quase aos berros: – João Batista, terráqueo, formado em Ufologia, querendo manter um contato. Desta vez ele obteve resposta: -”Zé Severino, nordestino, motorista de caminhão, querendo cagá sossegado”.

Zé Borracha

Zé Borracha

 

A história de Mãe Diná

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 37 janeiro de 2004

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link: 

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/1FuQeYLaza73.pdf

No começo da década de 90, uma noticia caiu como uma bomba na cidade. Segundo muita gente ficou sabendo, a conhecida Mãe Diná, tinha ido à televisão e previsto que uma represa no Vale do Paraíba iria estourar. Coincidiu, na época que a represa estava tendo ajustamentos de terra provocando pequenos abalos sísmicos.

A história cresceu tanto que assustou os moradores.

Jornais e a própria TV estiveram na cidade para registrar o ocorrido. Foi necessário Mãe Diná dar uma entrevista à rede Globo desmentindo tudo, para acalmar a população.

Naquela época alguns jovens da cidade viram mãe Diná na TV, fazendo previsões de fim de ano, e tiveram uma ideia brilhante, sem medir conseqüências. Espalharam que ela tinha previsto o estouro da represa de Paraibuna, para aquele ano.

represa

vertedouro da tulipa

vertedouro da tulipa

 

Histórias verdadeiras que viraram folclore (por José Déia)

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 11 agosto de 2001 parte I
Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link:
http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/R476Dd7Vktqa.pdf

O nosso rio era rico em historias e lendas. Me lembro de uma que dizia que uma bíblia foi jogada no Paraíba, por um malfeitor, contrario aos princípios da Igreja Católica e , em represália, o pároco da época falou o seguinte:

“- A bíblia será devolvida. O rio vai devolvê-la, trazendo-a de volta e deixando-a no altar mor da igreja Matriz”.

Esta historia foi pesadelo por muitos anos. A situação piorou ainda mais quando surgiu o boato da construção de duas grandes barragens em Paraibuna. “é a profecia”, diziam os antigos, “a represa pode estourar e as águas chegarem até o altar”. Para esta lenda, tenho uma atenuante. Na época em que deu inicio a historia toda, a única igreja da cidade era a igreja do Rosário (1880 a 1900). A nova matriz estava sendo construída. E uma enchente levou as águas ate sua porta principal, mas nada aconteceu. A grande enchente de 27 de fevereiro de 1958 também chegou à porta, mas nenhuma bíblia apareceu. Até hoje, nada aconteceu (ainda).

Outra lenda contava que certa mãe havia jogado seu filho recém nascido nas águas do Paraíba. Esta criança se transformou em uma serpente, dormia com o rabo em baixo da igreja do Rosário e a cabeça em baixo da igreja da Matriz. De quando em quando ela se reacomodava, tremendo a terra, e se ela acordasse, Paraibuna seria destruída.

Para confirmar esta lenda, tivemos os grandes tremores de terra, oriundos das acomodações de terra da Represa Paraibuna/Paraitinga. Na ocasião, os antigos acreditavam que a lenda se confirmaria em fato real. Mas nada também aconteceu.

A explicação mais aceita para o ocorrido foi puramente técnica. Paraibuna esta sobre uma falha geológica, denominada “Falha de Taquaxara”, que começa em Bauru e termina em Angra dos Reis. Por isso os abalos já aconteciam no passado, bem pouco, mas com a represa eles aumentaram, devendo continuar até o final dos tempos.

Cidade de Paraibuna na década de 70

Cidade de Paraibuna na década de  70

Igreja do Rosário

Igreja do Rosário

Esplendor de uma ideia

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 8 maio de 2001 parte I

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link: 

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/35t7BQREhSWe.pdf

Em 13 de junho de 1899, o Major Eduardo José de Camargo, resolveu promover a Construção de um hospital na cidade, começando com a renda da festa daquele ano. Formaram-se então, uma comissão com os Srs. Cônego Antonio M. de S. Almeida, Major Eduardo José de Camargo, Comendador José Pereira de Faria, Cel. José de Porfírio da Silva, Cap. Juvenal de P. Madureira e Anthero Carlos de Miranda. No dia 5 de maio foi lançada a pedra fundamental, com a construção em andamento feita pelo arquiteto João Vitelli, que concluiu em 29 de dezembro 1901.

Em 1909, o Almanach Parahybuna citava pessoas que ajudaram a entidade no seu inicio: Sr. Major Eduardo J. de Camargo, que doou grande número de tijolos, o Cônego Antonio Moreira, o Sr. Olegário J. Ortiz, que deram a Santa Casa $500 e $100, os Srs. Juvenal de Paula Madureira, Guilherme F. Moura e José P. de Faria que doaram vasilhame e medicamentos e a Sra. Júlia Cantinho que doou obras e objetos de farmácia, Padre Francisco Filippo, que doou uma casa, sito a Rua Major Soares e uma parte de terra do bairro Escaramuça.

Santa Casa de Paraibuna

Santa Casa de Paraibuna

Santa Casa

Santa Casa de Paraibuna

Paraibuna nas Olimpíadas de 32

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 2 novembro 2000-parte II

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link:

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/uGpTOJmuRCbp.pdf

Em 1932, Paraibuna acabou entrando para a história das Olimpíadas. A equipe do Brasil. formada por poucos atletas, e que disputou jogos nos Estados Unidos, voltou de navio para Casa. Iam desembarcar no Rio de Janeiro, para depois seguirem para São Paulo. Mas acontece que o Brasil estava em plena Revolução Constitucionalista e a fronteira perto de Bananal e Queluz estava completamente fechada. Com isso, os atletas desembarcaram no Porto de São Sebastião, subiram a serra a pé e de lá, um caminhão de aluguel trouxe a turma para a cidade. Onde inclusive tiraram uma foto na praça.Da cidade, foram enviados de caminhão para a estação  de trem de Caçapava, onde embarcaram para São Paulo.

Futebol masculino Paraibuna década de 70

Futebol masculino Paraibuna década de 70

 

Quirera !?? Só pra animais…

Esta matéria foi escrita por João Rural na Revista Nascentes nº 15 Dezembro de 2001 parte III

Acesse o site chaocaipira.org.br e pesquise sobre o tema, veja fotos e publicações anteriores, ou direto no link

http://www.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/vpc83jNq2JPH.pdf

Em setembro, quando estive em São Paulo, divulgando o eu livro, um grupo de amigos me chamou para fazer uma deliciosa quirera.

Ai fui até um grande supermercado comprar os ingredientes básicos: quirera de milho, costelinha de porco, tomates e cheiro verde. Cheguei ao supermercado e fui direto ao setor de farináceos. Uma prateleira imensa, onde tinha tudo em forma de fubás, farinhas, grão, etc., mas a danada da quirera nem cheiro.

-Será que vende tanto assim, pensei comigo. Ao lado uma mocinha bem arrumada e ajeitada fazia a promoção dos produtos e viu minha situação. Com sua voz aveludada de paulistana me abordou, provocando um dialogo hilariante.

– Procurando alguma coisa, meu senhor? Posso ajudá-lo?

– Pode sim. Eu queira comprar quirera, mas não estou encontrando aqui.

– Quirela? O que é isso?

-Não minha filha. QUI-Re-RA, soletrei bem compassado. Explicando melhor, é um milho quebrado bem pequenininho, pra fazer comida.

-Ah? Quirera é isso. Pra fazer comida pra animais? Então é no setor de animais.

– E onde fica?

– É no nono corredor. Venha que eu te mostro. Chegando ao tal lugar. Uma profusão de produtos para todo tipo de bichos.

-Olha, aqui tem milho pra passarinho ,dessa mais fina. Essa média é para aves maiores e essa maior é pra cozinhar pra cachorros.

-É essa mesma que eu quero. Só que é pra gente comer e não animais.

– Mas, meu senhor, esse é um produto para animais, veja os rótulos das embalagens. Como o senhor vai comer isso?

-Olha aqui, minha filha, a gente faz um prato caipira deliciosa com isso. É só juntar umas costelinhas, que vou comprar ali no açougue, tempero, cheiro verde uns tomates e está pronto.

Nesse meio tempo, como todo paulistano gosta duma rodinha, umas cinco pessoas que estavam do lado, já ouviam a conversa interessados entraram no papo. Uma senhora de mais idade arriscou uma pergunta.

– Escuta moço, como é mesmo que se come isso?

Os outros se juntaram e eu expliquei tudo, novamente, com a mocinha do supermercado olhando, meio curiosa e espantada.

Um senhor mais refinado arriscou outra pergunta.

-Onde o senhor aprendeu isso?

Respondi rapidamente quem eu era, que tinha um livro editado sobre comidas típicas, etc. abri a bolsa e lasquei meu comercial.

Em poucos minutos vendi 5 livros, com a receita da quirerinha, para o “bicho homem”. Me despedi da mocinha e agradeci, deixando um lembrete preocupante.

-Acho que você deveria conversar com o gerente para colocar quirera no setor de alimentos.

quirera

Quirera

Santinha Aparecida Ronaldo Santos/Isnard Teles

Vem de longe uma lembrança

Muita clara a luz do dia apontou

To aqui igual a muitos a procura da tua paz

Vem de longe uma estradinha

Que corta caminhos e me leva a ti

Que por tantas vezes fez, que por tanta vezes faz.

O Senhora Aparecida mãe de Deus

Orai por nós

Os excluídos, os sem vinho, os sem pão.

O Santinha Aparecida mãe de Deus

Orai por nós

Os excluídos, os sem vinho, os sem pão.

Chega a hora da partida

Pego a minha couraço o meu jipão

As durezas dessa vida

Despedida desse chão

Chega a hora de ir embora, pela estrada levo a fé levo a esperança

E a certeza do futuro ter o vinho e ter o pão.